Conversas sobre literatura, livros, escrever e ler

"Há semanas que, salvo duas breves interrupções, não pronuncio uma só palavra; a minha solidão fecha-se, enfim, e estou no meu trabalho como o caroço no fruto." René Maria Rilke

"A solidão que acontece ao escritor por força da obra revela-se nisto: escrever agora é o interminável, o incessante." Maurice Blanchot

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nem cruz, nem caldeirinha

O Zé Castello acaba de me deixar entre a cruz e a caldeirinha, tendendo mais para a última. No seu livro A literatura na poltrona, o crítico/jornalista é taxativo: “a partir da segunda metade do século XX, com a expansão da teoria literária, a literatura se converteu em um objeto de e para especialistas”.

De acordo com o Zé, a literatura se converteu numa coisa menor que sua crítica. Teríamos, por exemplo, mais gente que leu (ou disse que leu) O cão do sertão, livro do Luiz Roncari que fala da obra do Guimarães Rosa, do que leitores propriamente do Guimarães Rosa.

Se ninguém precisa conhecer a teoria do cinema para se emocionar com um bom filme, igualmente não seria necessário se entender de literatura para fruir um puta livro.

Por um lado, concordo, Zé. A literatura tem sido colocada num degrau bastante inferior que sua crítica e, certamente, que seus simulacros – best-sellers, livros de auto-ajuda etc.

Mas por outro lado, vejo com um pouco de susto um sistema literário ser deixado sem amparo crítico que reoriente as produções ficcionais e as proteja de um mercado que, cada vez mais, privilegia o reprodutível que vende, preterindo o surpreendente e avassalador, o novo que assusta, e encalha.

Vamos combinar? Nem a cruz nem a caldeirinha. Quero ler como sempre li: por prazer, amando e odiando, mudando de opinião a respeito de um mesmo livro, deixando de ler um escritor por suas posições políticas (sim, quero poder ser preconceituoso com quem leio!). Mas por outro lado quero entender mais um pouco de teoria literária, ler os “caras” que leram os “grandes caras”, concordar e discordar deles.

Literatura é um menáge que se faz entre quatro páginas. Se não gozar, não valeu.

3 comentários:

  1. Oi, Jota Pê, estou contente por estar aqui, visitando você. O assunto é complicado, mas, tentando dizer em poucas palavras, acho o seguinte: o escritor de ficção não precisa entender de teoria ou crítica literária para escrever boa literatura. O teórico ou crítico da literatura em geral não é escritor de ficção, ou não é bom escritor de ficção. São habilidades diferentes, raramente reunidas na mesma pessoa, mas possíveis, sim, de existir num mesmo indivíduo, como (exemplos ao acaso, na pressa), Octavio Paz, Borges... E representam também, a crítica e a escrita literária, ao meu ver, perspectivas diferentes, aproximações diferentes quanto ao texo.
    Muitos beijos, tô com saudade de você.

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  2. Jão... Gosto da arte enquanto transgressão. Inclusive enquanto transgressão da crítica sempre tão paramentada. Então que venham!!!

    Olha só: trate de assinar seus textos. Reconheci este como seu pelo estilo. (fruir um puta livro .... Se não gozar, não valeu)

    rrsrsrsrsr

    Beijo

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  3. ah.... esqueci de concluir.

    Em toda suruba há sempre quem goze com o pau do outro.

    rsrsrssrs

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